Bíblia:Um livro humano, demasiadamente Humano.

Bart D. Ehrman
Ao contrário dos Neocons-Evangélicos Brasileiros, como Augustus Nicodemus e o Robinson Cavalcante, este questiona de fato. Vai a fundo....

Entrevista de Bart D. Ehrman ao site:"ALMAGAMA"

A Daniel Lopes – O problema com Deus, lançado ano passado no Brasil, tem alcançado razoável sucesso. Seu autor é Bart D. Ehrman, um ex-evangélico que gradualmente transformou-se em agnóstico – como resultado da leitura de manuscritos bíblicos nas versões hebraica e grega e das pesquisas sobre o processo de escrita, reescrita e “correções” dos textos movidas por interesses teológicos.

Na rápida entrevista que segue, a maioria das perguntas foi suscitada pela leitura de seu livro Misquoting Jesus, que saiu no Brasil como O que Jesus disse? O que Jesus não disse?. Ao final, passamos a lista de algumas das obras publicadas pelo autor, atualmente professor de Estudos Religiosos na Universidade da Carolina do Norte.


*Embora muitos já conhecam o pensamento desse autor, nunca é demais reprisá-lo, mesmo sabendo que as ortodoxias ganham em disparada no marketing religioso no Brasil. País repleto de cristianismos e suas Bíblias, mas, de pouco  ou quase nehum resultado que preste para sua opulação, cuja maioria vive na pobreza e na ignorância. Eis então a entrevista.
***

Amálgama – Com todas as complicações de tradução e outros obstáculos pelo caminho, quais são as chances de um leitor da Bíblia em português (ou francês, ou inglês) estar tendo acesso à “verdadeira Palavra de Deus”?

Bart D. Ehrman – Isso vai depender completamente do que alguém acredita ser a Palavra de Deus. O ponto do meu livro Misquoting Jesus é que há inúmeras passagens do Novo Testamento em que estudiosos discutem quais seriam as palavras originais, e outras passagens em que nunca poderemos saber.

Brevemente, quais foram seus métodos de pesquisa e em que ponto os resultados provocaram, para usar suas próprias palavras, uma “mudança sísmica” na maneira como você via a Bíblia?

Por muitos anos eu venho usando o método histórico-crítico de estudo da Bíblia, que é descrito no meu livro Jesus interrupted, e que é a abordagem normal da Bíblia adotada hoje por acadêmicos. Meus conceitos sobre a Bíblia começaram a mudar assim que eu percebi que nós não temos acesso, em muitos exemplos, às palavras originais do Novo Testamento, e que, mesmo onde nós temos essas palavras, parece que o Novo Testamento contem discrepâncias, contradições e perspectivas diversas.

Você teve uma considerável educação religiosa, não é verdade? Continua um crente convicto?

Quando eu me engajei no estudo do Novo Testamento, passei de cristão evangélico para cristão bastante liberal. Então, há cerca de dez ou doze anos atrás, finalmente decidi que não poderia mais explicar como pode haver tanta dor e miséria no mundo se existe um Deus bom e poderoso em seu comando, e acabei me tornando um agnóstico. Não acredito mais no Deus cristão, mas não sei se há no universo um ser divino superior.

Por que existem tão poucos livros sobre crítica textual bíblica para leigos, inclusive pessoas religiosas? Faltam leitores, escritores ou editores?

Para acadêmicos que são treinados para interagir com outros acadêmicos, é difícil aprender a interagir com leitores medianos que não tem as ferramentas e o vocabulário acadêmico à sua disposição. Mas há uma ânsia real entre o público leitor por livros sobre a Bíblia escritos por acadêmicos genuínos que se dedicam a educar o público leitor.

Qual vem sendo a repercussão de seus estudos, seus livros, dentro da academia e na comunidade religiosa?

Meus livros criaram uma grande gama de controvérsias entre pessoas da comunidade religiosa, especialmente entre cristãos evangélicos, que ficam surpresos, e às vezes chocados, ao ouvir o que acadêmicos vem dizendo sobre Bíblia todos esses anos. Meus pontos-de-vista não são chocantes para membros da comunidade acadêmica, visto que as ideias sobre as quais escrevo são aquelas amplamente compartilhadas entre acadêmicos – cristãos e não-cristãos – que também se dedicam ao estudo da Bíblia.

Você defende que a Bíblia é demasiadamente humana não apenas na medida em que seus copistas a alteraram, mas em que a escreveram. Dê-nos alguns exemplos.

Dois dos maiores exemplos: a famosa estória de Jesus e da mulher pega em adultério, em que ele diz, “Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra”, foi adicionada à Bíblia (especificamente ao Evangelho de João) por um escriba posterior. O mesmo é verdade sobre os versos finais do Evangelho de Marcos, onde Jesus, depois de sua ressurreição, diz a seus discípulos que aqueles que acreditarem nele falarão em línguas estranhas, serão capazes de lidar com cobras e de beber veneno sem correr riscos.

[Bibliografia selecionada]

- O problema com Deus: As respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento (Agir, 2008)
- Pedro, Paulo e Maria Madalena (Record, 2008)
- Evangelhos perdidos (Record, 2008)
- O que Jesus disse? O que Jesus não disse? (Prestígio, 2006)
- Lost Gospel of Judas Iscariotes (Oxford USA Trade, 2006)
- Jesus interrupted: Revealing the hidden contradictions in the Bible (Harper, 2009)

Fonte[14/12/2010]: http://www.amalgama.blog.br/04/2009/um-livro-demasiado-humano-entrevista-com-bart-d-ehrman/















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