CARTA DE UM PROFESSOR AO NOVO GOVERNADOR DE RONDÔNIA CONFÚCIO MOURA- 02


1- Talvez eu não tenha sido feliz no que disse na primeira carta que escrevi para o senhor. Por favor, me desculpe se não me fiz entender como eu gostaria: de forma clara e direta a respeito das minhas expectativas em relação ao seu futuro governo, no que diz respeito precisamente à área de educação. Enquanto professor concursado e licenciado em História, lotado em um dos estabelecimentos de Ensino deste Estado, desde o ano de 1990, só demonstrei apenas minha estranheza na escolha do titular da pasta tomando por base fontes pessoais que disponho dentro da UFRO. Torço para que o ilustre e bem aventurado cidadão possa surpreender e a corresponder as necessidades da população nesta área. Pelo tempo que trabalho como professor dentro das escolas, pelo o que já passei, experienciei, ouvi, vi, li, fiz e fui constrangido a fazer me julgo em condições de, no mínimo, oferecer-lhes algumas sugestões no intuito de corroborar com o sucesso do vosso governo. Essa minha escrita parte da esperança profunda de que, no mínimo, vossa senhoria leia e, principalmente, compreenda os desejos aqui expressos de forma direta ou indireta no texto que, creio eu, não são exclusivos de minha pessoa, mas, de certo modo, de muitas outras da categoria da qual faço parte.

2- Se o senhor me ler, isto por se só já será um fato relevante. Por quê? Porque seus antecessores, jamais fizeram isso. Especialmente os dois últimos governos. Se é que posso me referir a eles como dois, quando na prática sempre foram UM com ou sem uso d’um fantoche. Durante oito anos, o governo que se finda foi seletivamente surdo! Só ouvia mesmo, quem tinha algo a contribuir para o aumento do prestígio exclusivamente pessoal do governador, para afagar seu enorme ego e fortalecer o narcisismo de sua rude personalidade. Não adiantaram nada os gritos de apelo por melhores salários e condições de trabalho e outras angústias dos servidores públicos que sempre foi lesado por ele. Não adiantaram nada os escritos de alguns poucos críticos independentes de pontos falhos de sua gestão. Não adiantaram sequer as denúncias cristãs feitas durante sua primeira gestão, pelo Bispo da Diocese de Ji-Paraná Dom Antonio Possamai. Este, para quem tem boa memória, foi até desacatado com palavrões e xingamentos feitos por devotos e ferrenhos cassolistas de primeira hora, entre eles a então representante da SESAU em Vilhena: Keli Crisóstomo [sobrinha do então governador] e Ilva Crisóstomo [cunhada do mesmo dito cujo] em 19 de setembro de 2006 na Câmara de vereadores da cidade de Vilhena [1] Nem as ações judiciais lhes fizeram ouvir. A sua arrogante surdez foi uma de suas grandes marcas. Ora, porque leria um textinho de um professor da rede pública de ensino sob sua gestão? O senhor já começará a destoar do passado que começará em breve: se, se der ao trabalho de ler esse meu texto.

3- Quando o senhor tomar posse, por favor, comece a “descassolizar” a máquina estatal! Isto é, aos poucos, vá se livrando de todos, que de uma forma ou de outra contribuíram para que os últimos oitos anos transformassem a vida de muitos num inferno aqui na terra. Não estou negando que inúmeras obras não foram feitas nesse período. Foram feitas sim e muitas. Mas, a pergunta que poucos se atrevem a fazer: para benefício de quem? Foi um governo para todos? Mesmo para a população rural de Rondônia, as do interior do Estado: as obras feitas beneficiaram a todos? A maioria ao menos? Quantas pessoas subiram de uma classe para outra nesses oitos anos? Quantas pessoas, especialmente, da área rural, muitas até que idolatram o cabeça desse governo que se finda, ao menos, deixaram de ser analfabetos funcionais? Que passaram a fiscalizar e criticar as burradas e abusos de autoridades ocorridas na gestão do bem público? Os gastos com propaganda enganosa de ações idiotas da Assembléia Legislativa que nunca se comportou como um poder autônomo, mas subserviente? Só o fato de existirem pessoas idolatras deste cidadão já é um dos efeitos perversos de sua gestão. Agora, é possível contar, porque constituem uma minoria, os inúmeros cargos comissionados por ele gerados e as empresas que se deram bem na gestão dele. Então, senhor governador eleito, comece a mudar desfazendo-se dos males que seu antecessor criou. A começar pelos excessivos números de cargos comissionados. Dentro do próprio funcionalismo público há inúmeras pessoas de bem e com competência que podem realizar tal ofício. Por que não prestigiar funcionários de carreira? Por que prestigiar que não é?

4- Como parte disso que chamo de “descassolização” da máquina estatal: não deixe de mandar fazer uma ampla e irrestrita auditoria nas contas públicas e de divulgar seus resultados. Para a população ou, no mínimo, os formadores de opinião possam ter um referencial, algo com que se possa comparar depois, no final do seu mandato. Sabermos a situação de como o governo que se finda deixou o Estado, quais as heranças deixadas, seja elas benditas ou malditas. O que será preciso fazer para consertar ou conservar. Isso se chama de transparência! Depois, caro governador, no que diz respeito a educação que é a área em que me situo: após a poeira dos primeiros meses de governo baixar, convide o SINTERO para conversar sobre a educação do estado, acolha, na medida do possível, suas críticas e sugestões. Mesmo que o SINTERO não seja mais como foi antes do governo cassol, não seja mais tão forte como acreditam que são: escute-os! Mas, seria bom também, o senhor deixasse seu blog ativo como canal de conversação com todos os servidores públicos e a população. Pois os sindicatos por si mesmo jamais se bastarão: porque nem mesmo dentro deles existe a democracia que eles mesmos pregam para os outros. O senhor, ao contrário do seu antecessor, precisa OUVIR!

5- A título de sugestão, outra grande atitude de vossa parte que pode fazer a diferença de verdade seria a implantação de um sistema bi-partide de habitação destinados aos servidores públicos. Onde o Estado daria uma parte considerável e outra parte seria retirada do salário dos servidores que aderissem espontaneamente ao sistema. Um plano que possibilite a todo servidor a ter sua casa própria. Não casa conjugada, mas exclusiva, que seja sua mesmo. Podendo ser num condomínio próprio ou não. Quem sabe o senhor possa abrir uma linha de financiamento que permita aos servidores optarem pela casa ou apartamento que deseje morar, desde que eles ainda não tenham uma casa própria. Tal política, sendo feita, valorizaria indiretamente o salário do servidor. O senhor não acha? Verifique se não existe esta demanda. Tenho certeza que há muitos servidores [feito eu] vivendo de aluguel e vivendo mal. Dei esta mesma sugestão ao ex-governador cassol no seu primeiro mandato, durante a primeira greve dos trabalhadores em educação pela qual passou por cima como um trator e ele nem sequer fingiu que me ouviu. Imagina o senhor, o bem que o senhor vai fazer se acolher esta minha sugestão, especialmente para a sociedade que precisa de professores felizes lhes prestando serviços com alegria de morar com dignidade na sua própria casa. Eu, sinceramente, bem que gostaria de poder ter não só aumento salarial, mas uma casa onde pudesse me orgulhar de ser servidor público do estado de Rondônia.

6- Dê aumento salarial, mas não de qualquer jeito. Use o aumento que puder nos dar como uma política de real valorização do servidor público. Como assim? Depois que ajustar os salários que estão defasados, só dê aumento se, somente se, o servidor se prontificar a melhorar sua formação acadêmica e der provas disso. Permita e estimule que, por exemplo, os professores façam cursos de pós-graduação, mestrados ou doutorado em universidades públicas como a UFRO na área em que atua. Acabe de vez por todas com aqueles cursinhos de fantasia que seus antecessores fizeram no Rondon Palace Hotel. Ao invés disso, crie um laço com a UFRO que permitam o professor fazer a especialização que precisar. Cobre desse professor a freqüência e os resultados. Condicione qualquer aumento real de salário a sua produção acadêmica não só dentro da UFRO, mas, durante o exercício de seu ofício de professor em sala de aula, dentro da escola onde ele esteja lotado. Assim, o aumento será condicionado aos méritos intelectuais em se tratando do profissional do ensino. Chega de idiotas em cargos de direção escolar mandando em quem sabe mais do que ele. Chega de só professores em cargos comissionados, dentro das representações de ensino, serem os únicos a poderem fazer mestrados ou doutorados e etc.

Vou parar por aqui por enquanto. Mas, na próxima postagem lhes darei mais sugestões.

Fonte citada:

[1] http://www.diocesedejiparana.org.br/resultadolocal.asp?IDNoticias=3792

Consulta feita em 27/12/2010.

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