DEPOIS DO ELÓGIO VEM A TEMPESTADE

“Sem rasgação de seda, nos vários encontros de que participei com os sindicatos rondonienses, tanto no período eleitoral como também suas participações ativas em Brasília, isto há vários anos seguidos, e ultimamente com maior freqüência no debate pela transposição, pude observar o excelente nível dos representantes sindicais rondonienses. São plenos conhecedores das diversas legislações, articulam bem, são consistentes em conhecimento amplo, preparados. Então, as negociações correm em nível bem elevado.”



Confúcio Moura em 03/05/2011


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1. Não se trata de duvidar do estilo educado do atual governador. Ele não indica que é ou que algum dia será, mesmo de longe, semelhante ao esperto “gentleman” dos roceiros que reinou durante os últimos oitos anos. Faz parte da argúcia confuciana, do seu fitness, lidar a moda importada de Minas Gerais com os estorvos herdados da gestão anterior. Não existe ainda um estilo que possamos denominar de rondoniense. Para que entornar o caldo com as ditas representações dos funcionários públicos neste momento não é? O que custa falar de mansinho, ganhar tempo e afagar tão “nobres e inteligentes” egos desses representantes sindicais da causa alheia? Especialmente de onde, cujas famílias e partidos, se podem tirar bons quadros para enaltecer o próprio governo?

2. É obvio que o senhor governador não pode subestimar essas antigas e longevas raposas sindicais desse Estado, afinal, é tanto tempo no poder que não se admitiria que alguém, inclusive o próprio governante, duvidasse do brilhante profissionalismo desses cidadãos. Personagens que lembram outra personagem da conhecida história “o retrato de Dorian Gray” que envelhece mantendo eternamente jovem a figura retratada. Pessoas ambiciosas, alpinistas sociais que, no começo de tudo, no início da história de cada um desses sindicatos tiveram a esperteza de tomar a sua direção e nela permanecer até agora com uma aparência de instituição sólida e forte, mas que na realidade foram ficando feias, broxas, carcomidas, com uma base desorganizada, desunida, diferenciada, conservadora, autoritária, grandiosa, mas vazia politicamente e pedagogicamente. Então, é perfeitamente compreensível, que se articulem bem, que tenham uma performance política e financeira extraordinária de auto preservação. Só o retrato é que deve envelhecer e ficar longe dos olhares mais críticos existentes dentro da sua base. Sindicatos que tem como advogado o presidente da OAB seccional de Rondônia podem se conservar rejuvenescidos e guardar bem a pintura da sua real aparência. Sindicalistas tão inteligentes assim têm mesmo que ser elogiados pelos governantes e bem aproveitados. No mínimo, alguns entre eles têm que ser direta ou indiretamente cooptados, trazidos para juntos, afinal, o atual governo não é o governo da cooperação? Nada podia ser mais coerente que essa propaganda oficial.

3. Então, do ponto de vista dessas performáticas direções sindicais, porque não ceder? Ter um pouquinho menos de ambição e mais de paciência? Do ponto de vista do governo: por que não ceder mais um bocadinho não é? Antes era só 6%, agora são 8%. Ambos fazem algum suspense: de um lado fazem beicinho e uma bravata para mostrar que são valentões e do outro: dá uma de durão e responsável em relação ao orçamento e deixam que a imprensa eletrônica marrom local especule a vontade, brincando com as expectativas do funcionalismo público até chegar num meio termo. Um meio termo bom para governo e para os “sensacionais representantes sindicais”. Isso tem tudo para acontecer. Até porque há limitações de fato que não são apenas orçamentárias e que impedem um aumento salarial de fato. Mesmo que deflagrem uma greve, esta tende a fracassar como as anteriores fracassaram. É bom lembrar que Dorian Gray só é forte, bonito, poderoso no objeto retratado.

4. É aí onde mora o perigo! Depois dos elogios virá um acordo onde somente dois sairão vitoriosos: o governo e as direções sindicais. Já o funcionalismo por eles “representados” não. Terão que se contentar com o que será “dado”; terão que se convencerem e serem convencidos de que isso foi “uma conquista” do seu sindicato para não se sentirem engambelados e com um baixo astral. E como os trouxas dos filmes do Harry Potter, os funcionariozinhos públicos filiados que não fazem parte do mundo da magia das direções sindicais, terão que continuarem trabalhando como sempre trabalharam e muito mais, contudo, sem poder reclamar e fazer corpo mole. As raposas sindicais, como prêmio e reconhecimento, serão novamente eleitas  ainda nesse ano e o governo terá um pouco mais do tempo que precisa para tocar seus projetos.

5. Mas, onde está a tempestade? Ela estará disfarçada no contínuo conformismo dos trabalhadores em educação com esse suposto ganho que esses elogiosos e bem sucedidos movimentos do governo com o sindicato lhes “darão”. Como sua principal preocupação é econômica: as favas com a educação! Como são tão conservadores quanto os governos desse Estado: o ensino continuará do mesmo jeito de sempre; as condições de trabalho idem; a relação autoritária entre professores e alunos pior ainda, as salas continuarão superlotadas; os assédios morais crescerão. O cinismo pedagógico prevalecerá. Satisfeitos com o bocadinho que conseguirem “conquistar” de dinheiro a mais em seu bolso, a maioria dos professores continuará como sempre desde Adão. Até porque mixaria não faz revolução.


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