Êta Professora arretada! A Profa. Amanda Gurgel do RN

DISCURSO DA PROFA. AMANDA GURGEL NA ALE/RN


Eu preferia ela como presidenta do SINTERO que a burguesa que aí está.


*A transcrição procurou ser fiel a forma de falar da referida professora do Rio grande do Norte.


"— Bom dia a todas e todos! Durante cada fala aqui eu pensava em como organizar a minha fala. Porque assim são tantas as questões a serem colocadas e tantas angústias do dia-a-dia de quem está em sala de aula, de quem está em escola, eu queria pelo menos tentar sintetizar minimamente essas angústias, essas questões. Mas também como as pessoas apresentam muitos números e como sempre colocam que os números são irrefutáveis, eu gostaria também de apresentar um número para iniciar a minha fala. Que é um número composto por três algarismos apenas, bem diferente dos demais números que são apresentados aqui com tantos algarismos, que é o número do meu salário. Um 9, um 3 e um 0. Meu salário base, 930 reais. E aí eu gostaria de fazer uma pergunta a todos e todas que estão aqui, em nível superior, com especialização, é...se vocês conseguiriam mas também respondam só se não ficarem constrangidos, obviamente. Se vocês conseguiriam sobreviver ou manter o padrão de vida que vocês mantém com este salário? Não conseguiriam! Certamente, este salário não é suficiente nem para pagar a indumentária que os senhores e as senhoras utilizam para freqüentar esta casa aqui.

— Então assim, a minha fala não poderia partir de um ponto diferente desse, porque só quem está em sala de aula, só quem está pegando três ônibus por dia para poder chegar ao seu local de trabalho - ônibus precário inclusive...é que pode falar com propriedade sobre isso.Fora isso, qualquer colocação que seja feita aqui, qualquer consideração que seja feita aqui, é apenas para mascarar uma verdade, que é uma verdade visível a todo mundo, que é que em nenhum Governo, em nenhum momento que nós tivemos, no nosso Estado, na nossa cidade, no nosso País, a Educação foi uma prioridade! Em nenhum momento!

— Então assim... Me preocupa muitíssimo a fala da maioria aqui, inclusive da Secretária Betânia Ramalho - com todo respeito, que é "Não vamos falar da situação precária porque isso todo mundo já sabe." Como assim não vamos falar da situação precária? Gente! Nós estamos banalizando isso daí! Estamos aceitando a condição precária da Educação como uma fatalidade. Estão me colocando com um giz e um quadro para dentro de uma sala de aula para "salvar" o Brasil? É isso?

— Salas de aula super lotadas, com os alunos entrando a cada momento com uma carteira na cabeça, porque não tem carteiras nas salas. Sou eu a redentora do País? Não posso! Não tenho condições. Muito menos com o salário que eu recebo. Está certo, a Secretária disse ainda que não podemos ter é...ser imediatistas! Ver apenas a condição imediata... Precisamos pensar a longo prazo.

— Mas a minha necessidade de alimentação é imediata! A minha necessidade de transporte é imediata! A necessidade de Jéssica de ter uma Educação de Qualidade é imediata! Certo? Então eu gostaria de pedir aos Senhores inclusive que, se libertem dessa concepção errônea, extremamente equivocada e isso eu digo com propriedade porque sou eu que estou lá - inclusive além... Com propriedade maior do que os grandes estudiosos... Parem de associar qualidade de Educação com Professor dentro de sala de aula! Parem de associar isso daí! Porque não tem como você ter qualidade na educação com professores três horários dentro da sala de aula. Certo? Porque é assim que os professores multiplicam os 930! Novecentos e trinta de manhã! Novecentos e trinta à tarde! Novecentos e trinta à noite! Certo? É para poder sobreviver! Não é para andar com bolsa de marca ou para usar perfume francês. Certo? É para ter condições de pagar a alimentação de seus filhos. É para poder ter condições de pagar a prestação de um carro que inclusive eles precisam escolher o dia em que vão andar de carro, porque não tem condições de comprar o combustível.

—Então a realidade nossa, o cenário da Educação do Rio Grande do Norte é esse! E eu não me sinto constrangida de apresentar meu contracheque. Nem a aluno! Nem a ninguém. Sinto muito, mas deveriam estar todos constrangidos. Entende? Entra governo e sai governo e eu peço desculpa mais uma vez Betânia, mas não tem novidade na sua fala. Sempre o que se solicita da gente é paciência! É tolerância!

— Tenho colegas que estão aguardando "pacientemente" há 15 anos, há 20 anos por uma promoção horizontal. Professores que "morrem" e não recebem uma promoção! Então eu quero pedir a Secretária, em primeiro lugar, "paciência também"! Porque nós não agüentamos mais esse discurso! Não agüentamos! O que nós queremos é "objetividade"! Como é que é? Queremos sair desse impasse? Queremos! Mas "como"? Sem nenhuma proposta? De mãos abanando? Voltar mais uma vez desmoralizados para a sala de aula desmoralizados para o aluno dizer "Professora a gente ficou aqui sem ter aula e só isso? Vocês receberam só 20, 30 reais? Dão risada! Pedimos ainda Secretária "Respeito"! Para que a Senhora não vá mais a mídia dizer assim "pedimos flexibilidade"! Como se "nós" fôssemos os responsáveis pelo "caos"!
Que na verdade só se apresenta a sociedade quando nós estamos em greve mas que está lá todos os dias, dentro da sala de aula, dentro da escola, em todos os lugares! Certo? Então respeito! Não se refira a nossa categoria dessa forma. Não se refira! Nem se refira como se fosse a direção do SINDI que está querendo fazer essa greve. Não é não! É 90% da categoria! 90% da categoria no Estado inteiro! Nos interiores, aqui na capital!

— Pedimos aos deputados apoio! Estejam mais presentes! Participem ali! Vão as nossas assembléias! Procurem ouvir esses trabalhadores! Procurem saber a realidade! Pedir a Promotoria, que esteja com a fiscalização efetiva ao Ministério Público. Que não seja para dizer "Professor não pode comer desse cuscuz não." Porque é um cuscuz "alegado" o que a gente come; o cuscuz da merenda. Porque a Promotoria está ali para dizer que a merenda é do aluno, não é do professor! Diga-se de passagem, que nós não temos recursos para estarmos nos alimentando fora de casa, nós não temos para isso.

— [...] o tempo é curto e eu gostaria de solicitar isso! Em nome dos meus colegas que comem o cuscuz alegado! Em nome dos meus colegas que pegam três ônibus para chegar ao seu local de trabalho! Em nome de Jéssica que está sem assistir aula nesse momento, mas que fica sem assistir aula por muitos outros motivos. É isso que eu quero dizer. "



Profa. Amanda Gurgel, RN, 19.05.2011.



Fonte: http://educacao21pugalde.blogspot.com/2011/05/resumo-da-educacao-no-brasil-prof.html


*Este Blog agradece a transcrição feita pela Profa. Paula Ugalde ugalde_p@yahoo.com.br



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