MEUS GIGANTES MOINHOS DE VENTOS

Seria um Quixote Pernambucano?

"─ A ventura nos vai guiando melhor as coisas do que poderíamos desejar; ali estão, amigo Sancho Pança, trinta desaforados gigantes, ou pouco mais, a quem penso combater e tirar-lhes, a todos, a vida, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; será boa a guerra, pois é grande serviço prestrado a Deus o de extirpar tão má semente da face da terra.”

1- O livro Dom Quixote trata das aventuras loucas de um cabra tido como um louco sonhador. Miguel de Cervantes talvez esteja colocando em dúvida, ironizando, questionando o “tirando onda”com o jeito considerado moderno de muitas pessoas de agirem ou pensarem de forma semelhante a sua personagem. Não é a tôa que a sua obra seja considerada um símbolo da modernidade ocidental segundo Michel de Focualt. Por tratar de questões, que até antes dela e de outras obras talvez, não tinha tal estatus. O personagem central, não tinha nada de medieval, dele podemos conhecer um pouco de como o conceito de indídualidade se forjou. Ao narrar as aventuras de um indivíduo que vivia uma realidade própria, alheia, talvez paralela, a realidade da vida cotidiana das demais pessoas a sua volta; diferente delas. Que sofre questionamentos, interdições variadas ao longo da sua aventura, especialmente oriundas do seu principal interlocutor: seu fiel escudeiro Sancho Pança. Descofio que esse seja o nome de guerra, de fantasia do próprio Cervantes ou de todos aqueles autoconsiderados pé-no-chão, realistas.

Sancho Pança:

“─ Que gigantes?─questionou Sancho Pança.”

2- Lendo alguns dos seus trechos pude enchergar no Sancho Pança, algumas pessoas que vez por outra atravessam minha vida como se fosse uma conciência a parte, uma espécie do grilo falante do Pinóquio a me alertar quando minha visão do mundo, das pessoas e das coisas ameaça pirar, a confundir moinhos de ventos com gigantes. Como não ver, por exemplo, no amigo Joaci Barbosa um Sancho até mesmo pela Pança? Alguém que, durante uma conversa saborosa sobre o tema escola e outras coisas a ela ligadas, afirmou de forma clara e evidente para mim no domingo passado: “meu amigo, você ainda acredita na educação!” Outro Sancho Pança é o Adjair Alves que,durante minha militância dentro da denominação batista numa vida anterior que tive, disse que eu brigava para mudar o que não se deixa mudar facilmente. Pois, “ela, a denominação batista, só choca ovo gorado!” O meu mais novo Sancho Pança, Ruda Ricci que afirmou em seus textos que o PT e o sindicato não passa de um moinho de vento que penso serem gigantes e etc...

Dom Quixote:

“─Estava, porém, tão convencido de que era gigantes, que não ouvia os gritos do escudeiro Sancho, nem conseguia perceber, mesmo de muito perto, o que era realmente;...”

3- Apesar do cantar dos grilos e dos avisos desses fieis escudeiros, inssisto em tornar minha vida venturosa e sigo adiante, tentando vencer novos gigantes e na esperança de que eles não sejam tão somente outros moinhos de vento. Disse Dom Quixote: “A ventura nos vai guiando melhor as coisas do que poderíamos desejar...”.Por isso teimo e sigo adiante, mesmo quebrando a cara como já andei quebrando inúmeras vezes dentro da denominação batista, dentro da escola, dentro do sindicato e na vida. E todas as vezes que isso ocorre os Sanchos me dizem: ─“Valha-me Deus! ─ exclamou Sancho. ─Não disse a vosmecê que visse bem o que fazia, que aquilo eram apenas moinhos de vento, e não podia ignorar senão quem levasse outros tombos na cabeça?

 “─Cala-te, amigo Sancho─Retorquiu Dom Quixote...”

4-Talvez, eu não reaja tão grosseiramente assim com reajiu Quixote. Mas, de certa forma parecida sim. Diante da razão dos Sanchos Panças da minha vida tenho que, as vezes, não dar-lhes ouvido ou mandá-los se calarem. É preciso arriscar e apostar que os moinhos de vento que nos deparamos na vida sejam, de fato, gigantes as quais temos que lutar e vencer. É preciso, ao menos, tentar. Quem sabe, numa dessas, os Sanchos Panças se equivoquem e Dom Quixote, finalmente, tenha uma luta de verdade e consiga, por tabela, vencer?



Referência:

Cervantes, Miguel. Dom Quixote. Volume 01.Biblioteca Folha. EDIOURO,1998










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