O rio da dor


DesProf.Peixoto1

1- Os rios de Rondônia, em especial, o Madeira e o clima instável vem sendo tratados como os grandes vilões da tragédia histórica pela qual um número considerável da população desse estado vem sofrendo. A falta de planejamento antecipado das autoridades competentes, o despreparo da matilha de políticos locais e a imprestável educação dada ao povo desde que Rondônia foi transformado em Estado jamais foram postas em discussão pelos poucos donos dos meios de comunicação locais. Jamais são e serão pontos de sua pauta dita jornalística. Rio Madeira, o rio da dor. Ele e o clima continuarão sendo criminalizados e responsabilizados pela calamidade que estamos agora vivendo. Ninguém, pelo jeito, será capaz de compreender suas razões. Muitos homens continuarão ignorando o fato do rio ter vida e poder de reação quando é agredido. Muitos jamais serão educados para compreenderem criticamente tal situação. Muitos, pior, acreditarão na culpa do rio da dor que a imprensa local faz questão de divulgar. Não quero discutir a existência das hidroelétricas do Madeira, porque nenhuma discussão vai fazê-las irem embora de onde estão. Por enquanto, a existência dela é um fato consumado e que não faz valer a pena a discussão. Quero questionar o papel de uma certa imprensa e da educação pública que diante do desastre transformam o rio em rio da dor e não educa ninguém a mudar de postura em relação ao meio ambiente e ao progresso fazendo com que assumamos a nossa responsabilidade ao invés de culpar pelos nossos problemas o rio, o clima, a natureza, enfim: a Deus a quem dizem que o criou.

2- No tocante a imprensa, chama a atenção a postura da maior empresa de comunicação de Rondônia. Empresa que a despeito de suas grandes qualidades técnica e operacionais e do seu poderoso alcance em Rondônia, não faz jornalismo mais doutrinação. Segundo os mesmos as consequências trágicas da falta de respeito das pessoas para com o Meio Ambiente, não tem nada haver não! Para seus porta vozes, os rios e as chuvas [clima] são os únicos responsáveis pelo mal que agora se passa nessa região. Em termos religiosos, Deus é o culpado pela cheia e sua devastação. Suas supostas vítimas, não tem nenhuma culpa não.


3- Para isso se valem da parcialidade e do conhecido argumento de autoridade para convencer quem não presta muita atenção. Observe leitor quem somente eles convidam para “explicar” a dor que o rio nos afligem neste duro inverno da região. Observem o que os ditos especialistas dizem! Observem a reação de certos funcionários dessa empresa quando as autoridades técnicas ou políticas se posicionam de modo semelhantes a sua posição! Quem discorda jamais é convidado para questionar os senhores do rádio e da televisão. O direito ao contraditório só válido para quem manda na emissora e demais meios de comunicação. A parcialidade se encontra justamente aí nessas posturas tomadas sem nenhum remorso e coração. E quanto ao argumento de autoridade? Podemos vê-lo quando a retransmissora local da segunda maior empresa brasileira de comunicação e em audiência se vale de especialistas no assunto para convencer seus ouvintes e telespectadores a acreditarem na sua posição. Pois sabem que muita gente incauta constroem suas opiniões com base nesses argumentos sem esboçar nenhuma reação.

4- O que muita gente não se dar conta é que agindo dessa forma, a dita empresa e congêneres não fazem jornalismo, mas doutrinação! Jornalismo que pretende ser sério divulga as versões contraditórias e as divergências mais representativa na sociedade. Estimula o debate entre seus representantes e, principalmente, deixa que seus ouvintes e telespectadores tirem suas próprias conclusões. Mas, infelizmente, não é isso que vem acontecendo. A empresa não só toma partido como nos impõem, discretamente, sua visão seja a suposta causa do rio em favor do político ladrão. A culpa a natureza se repetirá como um mantra sem nenhuma objeção! “Autoridades” terão sempre voz, vez e razão. Hoje mesmo elogiaram a fala da Presidente da República que é do PT sem esconder sua satisfação. Ora, onde está o problema nisso? Está no cinismo e na hipocrisia explícita e na boa artimanha política de quem detesta o PT, mas que faz coro com ele quando tem a mesma opinião. O rio Madeira é o rio da dor de muitos, nós não temos culpa alguma não!

5- Para piorar, um funcionários famosos dessa poderosa empresa de comunicação achou ruim a existência de liberdade nas redes sociais de hoje então. Lá eles não tem maioria não! Do jeito como reclamou parece achar uma afronta o fato de haver liberdade de pensamento e de expressão. A supracitada reclamação deste “destemido pioneiro” e calango que pensa ser um “dinossauro” do rádio e da televisão se ampara numa mentalidade autoritária e retrógrada do tempo do Estado Novo. Ele sempre foi da UDN e disso não tem vergonha não! Em Porto Velho, sempre foi Pele-Curta ou Cutuba dependendo das conveniências da ocasião. Pessoas dessa geração tem razão de se sentirem tão ofendidos com tanta “liberdade” nas redes sociais usadas pela população. Uma empresa assim não faz jornalismo mas doutrinação. Porém mais do que ela é o Estado que a sustenta como a um cão. Os caras não conseguem fazer pergunta alguma que o incomode as “autoridades” de plantão. Poupa políticos locais de serem responsabilizados aos invés do rio que não tem perdão.

6- É, diante dum caos que se poderia evitar, é muito conveniente para a imprensa que finge estar a serviço da população fazê-la ficar refém da situação. Apelar para a generosidade alheia é maquiar suas nocivas formas de construir e divulgar uma informação. Que cara de pau achar que está fazendo o bem, o melhor que pode fazer só porque está servindo de posto de arrecadação. Que maldade transformar o rio Madeira em rio da dor. O rio da dor, incontrolável, imprevisível que traz tragédias e devastação. Deus, então, deve ser o culpado por ter criado tal monstro de força incontrolável quando se trata do povo lascado e sem noção. Resta-nos resignarmos, esperar que este bandido fuja para, de novo, voltarmos a agredi-lo de inúmeras formas como, talvez uma vingança pela dor que por esse rio escoou. Não será essa verdade que a imprensa quer nos fazer engolir?

©Blog do DesProf.Peixoto


1-Pernambucano de Recife, Professor readaptado por ser vítima de assédio moral no local de trabalho e Historiador formado pela UNIR/UFRO em 1997.

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